A Rebentação do Recôncavo
Canto em duas Cordas para o vale do Paraguaçu.
SCOMBROS (p.88-89, 2012)
SCOMBROS (p.88-89, 2012)
I
A Planície da Revelação
À minha querida
avó, octogenária de fôlego,
por
possibilitar tal visão…
Canibais as silvícolas saúvas...
É toda herança, vã fortuna;
A beleza, corta-lhe a cabeça,
qual Vênus sem braços…
Por nunca pôr a farda, mais
gosto é de dar trabalho… Eu,
que de Garrincha as pernas tortas,
Coringa nas cartas do baralho
Cavo no Recôncavo a cova…
Ó, se- fico-me nos séculos inteiro
À Ponte procura o canoeiro,
o estaleiro é só mágoas e cansaços.
Foste dedilhar teus dígitos,
Pilhar dos contêineres as cargas
Foste digitar teus dísticos…
(Por desertos oceanos busquei
Um decassílabo nas décadas
Em cada aeroporto, em cada
Aurífera manhã, disforme…)
Fragmento na distância derramada
substância que evapora. A estrutura
qual lego se desmonta, qualquer miragem
sem ortografia, o segredo cinéreo
Ao meio nevoeiro, o etéreo revelar…
Ondas que o vale amordaçam
Vem esmigalhar mistérios,
A líquida epifânica planície
Que em taça o horizonte
encerra…
Amanhece…
Astrólogo dos séculos, que a tudo
tem criado, enciclopédico animal
sem óculos, os rins um dia o pararão,
sinuosa alma em cruz ilhada entre
montanhas.
II
Côncava Imagem
Canhões e cais
gravitando em tua órbita…
Desta teoria imprecisa
Emerge arquitetura precária,
Qual névoas do Himalaia
Em seu cérebro mutante.
Das brumas revelam-se ninfas
Em seu fluido…
Eu, não sou bom com poemas
Mais a pena insiste enfardar-me
Vós dizeis-me vagabundo,
Não mas que o malandro
Que prefeita sobre vós:
Incrédulos e insensatos.
A corja as custa se nutre;
O que és-tu, esfíngica-miragem?
“Paraguaçu não é Senna”.
Falsa fábrica de ânsias nervosas,
Absurda indústria da fantasia.
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