domingo, 2 de março de 2014

A Rebentação do Recôncavo

Canto em duas Cordas para o vale do Paraguaçu.
SCOMBROS (p.88-89, 2012)


I

A Planície da Revelação


À minha querida avó, octogenária de fôlego,
por possibilitar tal visão…

Canibais as silvícolas saúvas...

É toda herança, vã fortuna;
A beleza, corta-lhe a cabeça,
qual Vênus sem braços…

Por nunca pôr a farda, mais
gosto é de dar trabalho… Eu,
que de Garrincha as pernas tortas,
Coringa nas cartas do baralho

Cavo no Recôncavo a cova…
Ó, se- fico-me nos séculos inteiro
À Ponte procura o canoeiro,
o estaleiro é só mágoas e cansaços.

Foste dedilhar teus dígitos,
Pilhar dos contêineres as cargas
Foste digitar teus dísticos…

(Por desertos oceanos busquei
Um decassílabo nas décadas
Em cada aeroporto, em cada
Aurífera manhã, disforme…)

Fragmento na distância derramada
substância que evapora. A estrutura
qual lego se desmonta, qualquer miragem
sem ortografia, o segredo cinéreo

Ao meio nevoeiro, o etéreo revelar…
Ondas que o vale amordaçam
Vem esmigalhar mistérios,
A líquida epifânica planície

Que em taça o horizonte
encerra…
Amanhece…

Astrólogo dos séculos, que a tudo
tem criado, enciclopédico animal
sem óculos, os rins um dia o pararão,
sinuosa alma em cruz ilhada entre montanhas.


II

Côncava Imagem

Canhões e cais gravitando em tua órbita…

Desta teoria imprecisa
Emerge arquitetura precária,
Qual névoas do Himalaia
Em seu cérebro mutante.

Das brumas revelam-se ninfas
Em seu fluido…
Eu, não sou bom com poemas
Mais a pena insiste enfardar-me

Vós dizeis-me vagabundo,
Não mas que o malandro
Que prefeita sobre vós:
Incrédulos e insensatos.

A corja as custa se nutre;
O que és-tu, esfíngica-miragem?
“Paraguaçu não é Senna”.

Falsa fábrica de ânsias nervosas,

Absurda indústria da fantasia.

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