sábado, 24 de maio de 2014

Nicolás Guillén - tradução.

Deitada na madrugada
A firme guitarra espera,
Voz de profunda madeira
Desesperada.

Sua gritante cintura,
na qual o povo suspira,
prenhe de som, alonga 
a carne dura.

Queima sozinha a guitarra?
tal como a lua se acaba;
queima livre de sua escrava
bata de cola.

deixou o bêbado em seu carro,
deixou o cabaré escuro, 
 onde se congela até a morte,
 noite após noite,

e ergueu a cabeça fina
universal e cubana
sem opio, nem maconha,
nem cocaína.

Vem a velha guitarra,
nova outra vez ao castigo
com que a espera o amigo 
que não a deixa.

Alta sempre, não caída,
traga seu risada e seu pranto,
funda as unhas de amianto
sobre a vida.

Congela tu, guitarrista,
limpa de álcool a boca
e nessa guitarra, tocando
tu estás completo.

El son del querer maduro,
tu estás completo;
o futuro aberto,
tu estás completo;
o de pé em cima do muro,
tu estás completo. . .

congela tu, guitarrista,
limpa de álcool a boca
e nessa guitarra, tocando
tu estás completo.


tradução: Camillo César Alvarenga




GUITARRA

Tendida en la madrugada,
la firme guitarra espera:
voz de profunda madera
desesperada.

Su clamorosa cintura,
en la que el pueblo suspira,
preñada de son, estira 
la carne dura.

¿Arde la guitarra sola?
mientras la luna se acaba;
arde libre de su esclava
bata de cola.

Dejó al borracho en su coche,
dejó el cabaret sombrío,
donde se muere de frío,
noche tras noche,

y alzó la cabeza fina,
universal y cubana,
sin opio, ni mariguana,
ni cocaína.

¡Venga la guitarra vieja,
nueva otra vez al castigo
con que la espera el amigo,
que no la deja!

Alta siempre, no caída,
traiga su risa y su llanto,
clave las uñas de amianto
sobre la vida.

Cógela tú, guitarrero,
límpiale de alcohol la boca,
y en esa guitarra, toca
tu son entero.

El son del querer maduro,
tu son entero;
el del abierto futuro,
tu son entero;
el del pie por sobre el muro,
tu son entero. . .

Cógela tú, guitarrero,
límpiale de alcohol la boca,
y en esa guitarra, toca
tu son entero.

Nicolas Guillen

MIMESE E O REAL LITERÁRIO: QUESTÕES SOBRE MIMESE E REPRESENTAÇÃO.

real. filos. diz-se de tudo que é. diz respeito opõe-se ao aparente, fictício, ideal, ilusório, imaginário, possível, potência. 

realidade. Qualidade, carater de real. 2. Agudo que existe infinitamnete real.

Austram Dourado (confissões de narciso) "...os romancistas e novelistas, na sua modéstia e simpleza aparentes, sabem que usam do real com inteira liberdade [...] O criador amassa a realidade...em função da geometria literária."

mimese do LATIM imitatio, no séc IV a.C, significa :imitação, representação, sugestão.



As noções de ordem e normatividade, como postas na Republica de Platão, em seu idealismo, indicam um conjunto relacional posto entre: deus (ideias), o artíficie, ou seja, aquele que forma a ideia e cria o objeto, e o artista responsável pela imitação, representação. Situação esta que segundo o filósofo grego leva à crítica ao engano, a partir de posicionamentos como: "poesia nociva ao espírito" já que esta cria a "aparência do ser e não o ser verdadeiro", assim realiza uma “imagem falsa da natureza dos deuses e das coisas".
Posto desta forma posso dizer então que: os poetas que se defendam. No entanto, a Arte observada pelo prisma da educação estética pode nos trazer novos olhares para esta problemática.

Já Aristóteles entende a poética levando em conta o principio da verossimilhança. Logo é possível deduzir que a arte literária deva contar o que poderia acontecer com o principio da verossimilhança.  Apresentando a ideia da diferença entre imitar o real e imitar a ideia. Nesse sentido o artista da palavra se encontra entre o poeta (construtor de enredos) e o historiador (construtor de narrativas), já que é possível considerar que "a arte tem uma realidade própria" o que permiti-nos apontar para uma "noção estética para arte literária".

Da antiguidade greco-latina passando pelo Renascimento até a modernidade propriamente dita a literatura se definiu por termos como "originalidade, conveniência e a verossimilhança” como indica Massaud Moises (2004, p.294). Se para evocarmos autores na modernidade a obra "A verdade das mentiras" de Vargasllosa ou A metamorfose de Kafka ilustram bem esta potência inerente à atividade literária.

Outro teórico contemporâneo que indica saídas para estas aporias é o mexicano Otávio Paz em seu livro Signos em rotação. Entre Grégorio e Quevedo foi apontada pela fortuna crítica uma espécie de imitação formal e temática, ao decorrer da passagem do século XVI ao XVII desenvolveu-se uma consciência de “ruptura”, que culminou nos desdobramentos conhecidos – escolarmente como: barroco, arcadismo, romantismo, simbolismo, parnasianismo e modernismo.

Na atualidade nomes como Erich Auerbach em suas investigações sobre a representação literária ocidental e Luiz Costa Lima, na esteira do primeiro, investigando as relações entre mimesis e modernidade, sugerem a configuração de um sistema de representação dos símbolos de uma sociedade. Exemplos se encontram em Balzac e Stendhal, onde se dão "representações sérias, problemáticas e trágicas com personagens comuns" o que permite uma “critica à representação de tais personagens apensas ao nível cômico da estilística inferior". Já que literatura e representação se revelam através da ambiência social: cultura, classe, camada, meio profissional, enquanto exterioridade extraliterária caracterizando as interpretação – objetivada na vida social.

Pelo exposto, a obra literária, construída na tensão do drama, catarse e expurgação pela tragédia, como observado em Gregor Samsa, em uma mimese da representação ajusta-se previamente ao que concebemos como realidade, enquanto que na mimese da produção, esta não está sujeita ao ajuste prévio do real, de forma que é preciso que o receptor apreenda o seu significado pela analise da sua produção, onde reside a natureza da criação do texto literário.