sexta-feira, 21 de março de 2014

Considerações e Ecos: Renascença e Medievo, uma Socioestética para O Nome da Rosa.



A primeira necessidade, aqui, é a de conhecer, do espírito humano, sua lógica – esse novo|único arranjo entre sentidos e o precário estado das contradições do mundo exterior – de uma metafísica espiritualista e teatralizada em drama posto pela religião e desconstruída aos poucos pela ciência já na virada dos séculos XV – XVI. A demolição da retórica religiosa, posta muitas vezes, como no caso da Inquisição, pelo o discurso da demonização, bruxaria e pecado, foi praticada por conta da escola de pensamento jônio de cunho racionalista de base em Aristóteles, sua Poética, mais precisamente uma base fundamental da comédia. Pela parte dos gregos, a herança helênica se alarga sob a forma do pensamento filosófico e matemático, bem como sua noção de perspectiva, trabalhada nas artes plásticas e visuais.

A comédia tão bem trabalhada por autores como Dante A. e  H. de Balzac, seja em seu aspecto conceitual ou até mesmo semântico,  faz-nos levarmos em conta a diversidade dos gêneros literários e acadêmicos, em especial sociológicos. Fazendo-nos crer que no Index  provavelmente deveriam haver muitos  livros ligados ao drama. No roteiro da narrativa uma série de casos de assassinato, ou talvez outra possibilidade como sugerem os primeiros indícios da investigação, especulam sobre suicídios – nada mais sociológico (!), um bom caso para o Durkheim. A oração dos monges no mosteiro, preceitos e virtudes versus o riso. Enquanto a mentalidade do sujeito moderno desenvolvia a matemática, a medição da lua, a questão do passado (memória). O latim ficou entre os ratos das bibliotecas, só o conhece os que se autoflagelam. A eficácia simbólica da fé e seus signos são mediados pelo corpo, pelo poder da magia e pela crença na religiosidade. Totens tornam real, o absurdo. As representações de uma paisagem ritual atravessam a construção mitificada do extraordinário. A morte se apresenta como esse ponto de contato entre o empírico e o profético, fazendo os homens trocarem os presságios por visões. É a hora da autópsia epistemológica, começamos por partes a dissecar o cadáver da ontologia da modernidade – aquela que abusou do arsênico. Enfim, não devemos deixar de nos livrar do fetiche da maldição da modernidade. Entre máscaras góticas e figurações pagãs se estabelece a representação do demônio.

Ser intelectual é ser marcado pela chaga da heresia, como um tradutor de grego em plena época da Inquisição. Aristóteles e seus pergaminhos são ainda como pegadas de um raciocínio lógico baseado em fatos, reprodução social até à sala de leitura do laboratório de linguagens, onde a axiologia de um sistema que tende ao axioma, a racionalidade do controle social da emoção segundo o autocontrole, ganham corpo sob a forma de uma coerção coletiva sobre a qual se debruçam até hoje toda a força do sentimento humano, artistas, filósofos, copistas, pesquisadores, poetas, escritores e cientistas se fazendo as perguntas para as quais já se sabe como encontrar a resposta.




Um atentado, de repente, um atentado intelectual. Terrorismo teórico e homens-bomba explodem o método. A partir de agora é a socioestética a base da resolução da fonte da sua investigação, realizada por meio de ocupações noturnas nas bibliotecas, onde ideogramas esperam ser traduzidos. Postos a ponta do lápis, com o atrito do grafite ao papel, o código se revela pelas lentes levadas a uso no ato da pesquisa – métodos de como desocultar as provas (documentos, escritos, imagens) assim como no sexo se acha o que se está perdido, como a poesia à caracterizar a mulher.

Conversas pelas madrugadas em busca da melhor tradução, o que se fez|faz do tradutor? Aristóteles e a filosofia grega ou a poesia, e a dramaturgia da comédia reincidiram sobre as normas e questões de autonomia e valor para o pensador moderno, onde a amizade, a única relação social válida, é confrontada pelo sexo (luxúria versus a felicidade). O amor como moral, a escritura como medida da realidade.

A modernidade confessa sua fantasmagórica transformação, o fracasso de seu fetiche. A chave foi colocada na porta é preciso que alguém rode o trinco para a simplificação da linguagem no exercício de observação e conclusão de suas deduções sempre a busca de provar que está certo, que é válido seu pensamento, id est, veritas. Ante elementos como alma, memória, o debate posto entre modernidade e decadência, é retomado sob a forma da alegoria onde sempre se terá motivos pra rir diante do espelho.

                Pensando que a escritura sociológica em Ciências Sociais pode ser definida a partir da ideia de gêneros sociológicos, assim é possível re-entender toda a sociologia e bem como a validade de seus recursos racionais e proféticos além de compreender os livros, ou de maneira geral, a letra sociológica escrita como prova da finitude do homem, sob a forma do texto – científica-escritura. E como todo texto tem lá suas passagens secretas e cheias de armadilhas que pedem para serem lidas a luz de lampião ou luminárias contra a cegueira generalizada.

Diante do êxtase do descobrimento se sente descobrir os alicerces da arquitetura mental em que se sustenta nosso rizoma bibliográfico. Há ideias que estão guardadas, como que num sótão, em meio a velhas ideias é quiçá o novo uso para alguma tradicionalidade pode vir a ser modernizado de acordo com a intenção e motivo do agente congnoscente. No entanto, diante das descobertas, por seu turno, observa-se que se está diante da multiplicação, da fertilidade e da invenção da criação.

A paisagem é toda ela um labirinto hipnótico. A reflexividade é a distinção do homem renascentista frente o homem do baixo medievo, com algumas exceções de tovadores principalmente os provençais como Rimbaut de Vaqueiras, onde se contradiz essa visão da mulher como o pecado em si e|ou bruxa. As categorias passam a conceder potência de realidade ao real. A “presença|ausência” de elementos como água, a tortura, a privação da liberdade, a erudição e o Quasimodo, a pobreza dos vassalos da Igreja (bárbaros europeus do ocidente) dá mostras do que compunha o universo da época renascentista, tornado acessível por meio das palavras e dos sentidos que elas significam: amor, morte, roubo e posse, celibato, rituais, solenidade e magias. (Nesse momento eu radicalizo as fronteiras entre sociologia e literatura).



Instituições como a crucificação, a fogueira, o sermão, em que se distingue preservação e perscrutação, a segunda que nos leva a uma anomia a história hegeliana, opondo-se desta forma a teoria do reflexo construída pela Ideia de linearidade e sucessão histórica cronologicamente e sincronicamente arranjada, quando na verdade a diacronia é a chave para essas intensas retomadas da modernidade.

O outro, assim como o novo, procuram pela modernidade enquanto esta faz séculos que espera por esta visita. O suplício da ciência só não acontece devido ao poder da recursividade do discurso sociológico posto na encruzilhada científica, onde as páginas estão em chamas enquanto envenenamos o corpo e confundimos a mente na cela da consciência – cega guiada pela razão.

Amigos leitores, livrem suas leituras dos sinos e queimem entre os livros! Porque a sociologia é qual o combustível à maneira de recuperar o sentido do pensamento, como o fez Prometeu quando aos homens o fogo ofertou. Põe-se em fuga a igreja – com seus preceitos – e a assim o mundo é posto em revista pela população entregue a sua terrível realidade de desigualdade e pobreza.

E ao aprender a carregar consigo os livros é que se pode continuar a aventura quixote-dantesca pela estrada que ao caminho obscuro e tenso, orientados pelos óculos, quase como amuletos, esquece-se vaidades e orgulhos intelectuais e, a partir de então, mestres e discípulos podem (re)estabelecer a tradição da ciência e assim encontrar maneiras de pensar, compreender e transformar a social-realidade.  


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