quinta-feira, 13 de março de 2014

Poesia, teoria e tradição.




Na literatura, na virada da Idade Média para a era Humanista, marcada pelo racionalismo renascentista, a  história da poesia dita como feita na era moderna é marcada por obras como o Paraíso Perdido de Milton, o épico inglês,  a Divina Comédia de Dante, na Itália e Os Lusíadas de Camões, no caso português. Essas obras de alguma maneira erigem o paradigma da literatura ocidental após o Renascimento. Para evitarmos ingênuas  apropriações de cânones predeterminados, vamos considerar que essas obras entre outras, nos servem até hoje como símbolos, ou espécies de totens literários com uma significativa influência em seus idiomas, e além deles, ao mesmo tempo em que exercem uma singular e permanente  resistência na crítica e no debate da teoria literária até  os dias de hoje.

Assim, o potencial de condensação estética permite que alguns textos tenham um sentido de permanência. Ou seja, de se fazerem presentes na atualidade nos remete a um movimento hermenêutico   de traduções, críticas,  pesquisa, releituras  para que se possa chegar a novas interpretações, de obras já lidas e relidas. De maneira que, com isso, somos levados muitas vezes à aporias como entre  pré-noções que tratam da arte racionalista e arte sensorial, ou nos termos de Max Bense, entre poesia natural e poesia artificial, ou até mesmo, arte figurativa e arte abstrata,  já que, precisamos antes de encarar os textos, presumir que a arte inventa a realidade ao mesmo tempo em que traduz o real. A arte não imita a realidade, é sua co-criadora, em estado de reflexividade.

À poesia cabe o verso – do latim verter,  vertere, que quer dizer voltar, ou seja, uma noção muito usada para definir a atividade tradutória.  A poesia – arte última, efeito do pensamento – diante da crítica se compreende que “o estudo do belo é um duelo em que o artista grita de pavor antes de ser vencido”.
Existe a teoria, a visão, em seu sentido grego, no entanto a historiografia literária, com todos os seus problemas, resiste. Se o momento histórico interfere na produção literária e no discurso literário há o discurso histórico humanizado, logo a literatura é transhistórica: já que articula todos os saberes indiretamente, tomando a realidade histórica para criar a realidade humana para dizer a realidade de outro modo, e ao desdizer a realidade ela trabalha na fronteira do dizível e do indizível a operar por imagens.
Através de uma linguagem plurifacetada, plurivocacionada recupera o conhecimento enciclopédico.  Na arte, o saber encena.  E como para Nietzsche “não existem fatos tudo é interpretação” podemos dizer que a interpretação, se acontece, é a partir da retirada literal de aspectos importantes da visão literal. As demais correlações que compõe a interpretação são consequenciais. Nós somos o sentido que criamos para o mundo: seja ele religioso, artístico ou científico.
Se a atual situação da literatura faz urgirem poetas-tradutores-críticos todos no afã da próxima descoberta, então se conclui que a infelicidade não está no que se tem, mas no que se espera conquistar, já que toda observação é objetiva e subjetiva então, a obra, ao falar por si, existe no emaranhado.

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