Poesia, teoria e tradição.
Na literatura,
na virada da Idade Média para a era Humanista, marcada pelo racionalismo
renascentista, a história da poesia dita como feita na era moderna é marcada por obras como o
Paraíso Perdido de Milton, o épico inglês, a Divina
Comédia de Dante, na Itália e Os Lusíadas de Camões, no caso
português. Essas obras de alguma maneira erigem o paradigma da literatura
ocidental após o Renascimento. Para evitarmos ingênuas apropriações de cânones predeterminados, vamos considerar que essas obras entre outras, nos servem até hoje como símbolos, ou espécies de totens literários com uma significativa influência em seus idiomas, e além deles, ao mesmo tempo em que exercem uma singular e permanente resistência na crítica e no debate da teoria literária até os dias de hoje.
Assim, o potencial de condensação estética permite que alguns textos tenham um sentido de permanência. Ou seja, de se fazerem presentes na atualidade nos remete a um movimento hermenêutico de traduções, críticas, pesquisa, releituras para que se possa chegar a novas interpretações, de obras já lidas e relidas. De maneira que, com isso, somos levados muitas vezes à aporias como entre pré-noções que tratam da
arte racionalista e arte sensorial, ou nos termos de Max Bense, entre poesia
natural e poesia artificial, ou até mesmo, arte figurativa e arte abstrata, já que, precisamos antes de encarar os textos, presumir que a arte inventa a realidade ao mesmo tempo em que traduz
o real. A arte não imita a realidade, é sua co-criadora, em estado de
reflexividade.
À
poesia cabe o verso – do latim verter, vertere, que quer dizer voltar, ou seja,
uma noção muito usada para definir a atividade tradutória. A poesia – arte última, efeito do pensamento
– diante da crítica se compreende que “o estudo do belo é um duelo em que o
artista grita de pavor antes de ser vencido”.
Existe
a teoria, a visão, em seu sentido grego, no entanto a historiografia literária,
com todos os seus problemas, resiste. Se o momento histórico interfere na
produção literária e no discurso literário há o discurso histórico humanizado,
logo a literatura é transhistórica: já que articula todos os saberes indiretamente,
tomando a realidade histórica para criar a realidade humana para dizer a
realidade de outro modo, e ao desdizer a realidade ela trabalha na fronteira do
dizível e do indizível a operar por imagens.
Através
de uma linguagem plurifacetada, plurivocacionada recupera o conhecimento
enciclopédico. Na arte, o saber
encena. E como para Nietzsche “não
existem fatos tudo é interpretação” podemos dizer que a interpretação, se acontece,
é a partir da retirada literal de aspectos importantes da visão literal. As
demais correlações que compõe a interpretação são consequenciais. Nós somos o
sentido que criamos para o mundo: seja ele religioso, artístico ou científico.
Se
a atual situação da literatura faz urgirem poetas-tradutores-críticos todos no
afã da próxima descoberta, então se conclui que a infelicidade não está no que
se tem, mas no que se espera conquistar, já que toda observação é objetiva e
subjetiva então, a obra, ao falar por si, existe no emaranhado.
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