Considerações e Ecos: Renascença e Medievo, uma Socioestética para O Nome da Rosa.
A primeira necessidade, aqui, é a de conhecer, do
espírito humano, sua lógica – esse novo|único arranjo entre sentidos e o
precário estado das contradições do mundo exterior – de uma metafísica
espiritualista e teatralizada em drama posto pela religião e desconstruída aos
poucos pela ciência já na virada dos séculos XV – XVI. A demolição da retórica
religiosa, posta muitas vezes, como no caso da Inquisição, pelo o discurso da
demonização, bruxaria e pecado, foi praticada por conta da escola de pensamento
jônio de cunho racionalista de base em Aristóteles, sua Poética, mais
precisamente uma base fundamental da comédia. Pela parte dos gregos, a herança
helênica se alarga sob a forma do pensamento filosófico e matemático, bem como sua noção de
perspectiva, trabalhada nas artes plásticas e visuais.
A comédia tão bem trabalhada por autores como
Dante A. e H. de Balzac, seja em seu aspecto conceitual ou até mesmo semântico, faz-nos levarmos em conta a diversidade dos gêneros literários e acadêmicos, em especial
sociológicos. Fazendo-nos crer que no Index provavelmente deveriam haver muitos livros ligados
ao drama. No roteiro da narrativa uma série de casos de assassinato, ou talvez
outra possibilidade como sugerem os primeiros indícios da investigação,
especulam sobre suicídios – nada mais sociológico (!), um bom caso para o
Durkheim. A oração dos monges no mosteiro, preceitos e virtudes versus o riso. Enquanto a mentalidade do
sujeito moderno desenvolvia a matemática, a medição da lua, a questão do
passado (memória). O latim ficou entre os ratos das bibliotecas, só o conhece os que se autoflagelam. A eficácia simbólica da fé e seus signos são mediados
pelo corpo, pelo poder da magia e pela crença na religiosidade. Totens tornam
real, o absurdo. As representações de uma paisagem ritual atravessam a
construção mitificada do extraordinário. A morte se apresenta como esse ponto de contato
entre o empírico e o profético, fazendo os homens trocarem os presságios por visões. É a hora da autópsia
epistemológica, começamos por partes a dissecar o cadáver da ontologia da modernidade –
aquela que abusou do arsênico. Enfim, não devemos deixar de nos livrar do
fetiche da maldição da modernidade. Entre máscaras góticas e figurações pagãs
se estabelece a representação do demônio.
Ser intelectual é ser marcado pela chaga da
heresia, como um tradutor de grego em plena época da Inquisição. Aristóteles e
seus pergaminhos são ainda como pegadas de um raciocínio lógico baseado em
fatos, reprodução social até à sala de leitura do laboratório de linguagens,
onde a axiologia de um sistema que tende ao axioma, a racionalidade do controle
social da emoção segundo o autocontrole, ganham corpo sob a forma de uma
coerção coletiva sobre a qual se debruçam até hoje toda a força do sentimento
humano, artistas, filósofos, copistas, pesquisadores, poetas, escritores e
cientistas se fazendo as perguntas para as quais já se sabe como encontrar a
resposta.
Um atentado, de repente, um atentado intelectual.
Terrorismo teórico e homens-bomba explodem o método. A partir de agora é a
socioestética a base da resolução da fonte da sua investigação, realizada por
meio de ocupações noturnas nas bibliotecas, onde ideogramas esperam ser
traduzidos. Postos a ponta do lápis, com o atrito do grafite ao papel, o código
se revela pelas lentes levadas a uso no ato da pesquisa – métodos de como
desocultar as provas (documentos, escritos, imagens) assim como no sexo se acha
o que se está perdido, como a poesia à caracterizar a mulher.
Conversas pelas madrugadas em busca da melhor
tradução, o que se fez|faz do tradutor? Aristóteles e a filosofia grega ou a
poesia, e a dramaturgia da comédia reincidiram sobre as normas e questões de autonomia e
valor para o pensador moderno, onde a amizade, a única relação social válida, é
confrontada pelo sexo (luxúria versus a felicidade). O amor como moral, a
escritura como medida da realidade.
A modernidade confessa sua fantasmagórica
transformação, o fracasso de seu fetiche. A chave foi colocada na porta é
preciso que alguém rode o trinco para a simplificação da linguagem no exercício
de observação e conclusão de suas deduções sempre a busca de provar que está
certo, que é válido seu pensamento, id
est, veritas. Ante elementos como alma, memória, o debate posto entre
modernidade e decadência, é retomado sob a forma da alegoria onde sempre se
terá motivos pra rir diante do espelho.
Pensando que a escritura
sociológica em Ciências Sociais pode ser definida a partir da ideia de gêneros
sociológicos, assim é possível re-entender toda a sociologia e bem como a
validade de seus recursos racionais e proféticos além de compreender os livros,
ou de maneira geral, a letra sociológica escrita como prova da finitude do
homem, sob a forma do texto – científica-escritura. E como todo texto tem lá
suas passagens secretas e cheias de armadilhas que pedem para serem lidas a luz
de lampião ou luminárias contra a cegueira generalizada.
Diante do êxtase do descobrimento se sente
descobrir os alicerces da arquitetura mental em que se sustenta nosso rizoma
bibliográfico. Há ideias que estão guardadas, como que num sótão, em meio a
velhas ideias é quiçá o novo uso para alguma tradicionalidade pode vir a ser
modernizado de acordo com a intenção e motivo do agente congnoscente. No
entanto, diante das descobertas, por seu turno, observa-se que se está diante
da multiplicação, da fertilidade e da invenção da criação.
A paisagem é toda ela um labirinto hipnótico. A
reflexividade é a distinção do homem renascentista frente o homem do baixo
medievo, com algumas exceções de tovadores principalmente os provençais como
Rimbaut de Vaqueiras, onde se contradiz essa visão da mulher como o pecado em
si e|ou bruxa. As categorias passam a conceder potência de realidade ao real. A
“presença|ausência” de elementos como água, a tortura, a privação da liberdade,
a erudição e o Quasimodo, a pobreza dos vassalos da Igreja (bárbaros europeus
do ocidente) dá mostras do que compunha o universo da época renascentista,
tornado acessível por meio das palavras e dos sentidos que elas significam:
amor, morte, roubo e posse, celibato, rituais, solenidade e magias. (Nesse
momento eu radicalizo as fronteiras entre sociologia e literatura).
Instituições como a crucificação, a fogueira, o
sermão, em que se distingue preservação e perscrutação, a segunda que nos leva
a uma anomia a história hegeliana, opondo-se desta forma a teoria do reflexo
construída pela Ideia de linearidade e sucessão histórica cronologicamente e
sincronicamente arranjada, quando na verdade a diacronia é a chave para essas
intensas retomadas da modernidade.
O outro, assim como o novo, procuram pela
modernidade enquanto esta faz séculos que espera por esta visita. O suplício da
ciência só não acontece devido ao poder da recursividade do discurso sociológico
posto na encruzilhada científica, onde as páginas estão em chamas enquanto
envenenamos o corpo e confundimos a mente na cela da consciência – cega guiada
pela razão.
Amigos leitores, livrem suas leituras dos sinos e
queimem entre os livros! Porque a sociologia é qual o combustível à maneira de
recuperar o sentido do pensamento, como o fez Prometeu quando aos homens o fogo
ofertou. Põe-se em fuga a igreja – com seus preceitos – e a assim o mundo é
posto em revista pela população entregue a sua terrível realidade de
desigualdade e pobreza.
E ao aprender a carregar consigo os livros é que se
pode continuar a aventura quixote-dantesca pela estrada que ao caminho obscuro e
tenso, orientados pelos óculos, quase como amuletos, esquece-se vaidades e
orgulhos intelectuais e, a partir de então, mestres e discípulos podem
(re)estabelecer a tradição da ciência e assim encontrar maneiras de pensar,
compreender e transformar a social-realidade.